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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Na Natureza Selvagem



Não conhecia a história de Chris McCandless até o último dia 20, quando ganhei o livro Na Natureza Selvagem (Into the Wild), escrito pelo jornalista Jon Krakauer.  O que, a princípio, pareceu apenas uma excelente reportagem transformada em livro, foi se mostrando um relato delicado de um jornalista que se identificou com seu personagem. E que se compara a ele em diversos momento – alguns explícitos, outros não. Metalinguisticamente, o livro fez com que eu, no papel de leitora, também me comparasse ao bravo McCandless e, porque não, ao autor Krakauer. Na real, o livro me perturbou.  Fiquei nervosa. Fez com que eu voltasse a uma época, não muito longínqua, na qual eu realmente desejei estar “na natureza selvagem”. Então, comecei a me perguntar o porquê de eu não ter me permitido ir um pouco mais ao extremo, como o jovem McCanndless.

Chris McCandless, ou Alexandre Supertramp como ele mesmo se identificou, foi um jovem americano que, por seus motivos, não se encaixava no mundo à sua volta. Abdicou do seu conforto financeiro e de sua família para partir rumo a uma busca pelo verdadeiro sentido da vida. Viajou por 2 anos pelos EUA, boa parte de carona, até chegar ao Alasca onde faleceu após permanecer mais de 100 dias sozinho vivendo de sua própria caça. Chris (ou Alex) queria estar perto da natureza e sentir a vida em seu pulso mais forte. O que ele buscava e quais seus motivos é impossível dizer. Mas, pelas pistas que deixou em seu diário e por suas leituras, dá para entender um pouco do que se passava em sua mente.

Assim como Alex, eu também já pensei várias vezes no modo de vida descrito por Tólstoi para alcançar o máximo da emoção – a tal superabundância de energia. Será que todo jovem tem isso? Não sei. Conheço pessoas que aceitam o mundo em que vivem e são felizes, assim como conheço as que odeiam as condições econômicas e sociais ao nosso redor e que realmente sofrem por si e pelo próximo. Há aqueles que lutam contra isso, aqueles que reclamam, os que escrevem sobre, os que apenas comentam. Mas, além da questão do estar conformado ou não, o que sempre senti foi realmente essa superabundância de energia e a necessidade de extrapolar isso a cada minuto. E não sei dizer a que isso se destina: às vezes são causas sociais, mas, na maior parte, é uma coisa egoísta mesmo. Apenas sinto, sempre, dentro de mim. E entendo como é difícil se sentir suprimido e não saber como dar vazão a isso tudo.

Pois aqui vem a segunda coincidência: apenas uma vez me senti vazia por estar completa. E esse vazio me fez sentir o nirvana da emoção. Foi preciso estar só, em condições físicas extremas, num local de difícil acesso para que eu me sentisse completa. A conquista de um objetivo me trouxe – depois de muitos meses - a perspectiva e a segurança de que está tudo bem comigo, de que eu posso viver com essa energia todo aqui dentro. Mas isso foi depois de muuuito tempo. Ali, na hora da epifania, nada fazia sentido, tudo foi colocado em choque. Fico pensando se Alex conseguiu se reconciliar com Chris nos seus 100 dias no Alasca. Tive inveja da sua coragem, algo que creio não ter em mim. Não faria o que ele fez, estou segura disso. Mas gostaria de ter feito.
Alex rabiscou várias coisas em seus livros e sublinhou trechos marcantes, sendo um deles o que diz que as experiências da vida só têm sentido se há com quem compartilhá-las. Pois aqui jaz minha diferença com ele: eu sempre tive pessoas com as quais me importo e não desejo me afastar. Nunca pensei em deixar minha família e, além deles, sempre tive um amor em minha vida, alguém com quem sempre pensei em dividir meus anos futuros.

O que fica disso tudo? Fica a confusão, volta essa fagulha, essa energia que quer transbordar. Histórias assim não me deixam deixar adormecer isso. Já tentei, muitas vezes me conter pois pensei que havia algo de errado comigo. Hoje, penso que talvez eu não deva conter isso, pois é o que me define. Talvez seja o caso de direcionar para o que me interessa. Mas não me pergunte que direção é essa, pois isso eu ainda não descobri.

Ah...esse texto está nesse blog pois, é óbvio, que foi no alto da montanha Machu Picchu que eu senti tudo isso. Não caminhei sozinha pela trilha, pelo contrário, foi muito bem acompanhada. Mas subi sozinha nessa montanha e me bastaram algumas horas sozinha – depois de alguns dias em grupo - para deixar tudo isso fluir.

O livro inspirou muitas pessoas, entre elas Sean Penn, que levou ao cinema essa história. Segue o trailler (ainda não vi o filme):



Eddie Vedder é o responsável pela trilha sonora incrível, eis aqui um gostinho:


domingo, 17 de junho de 2012

Inti Raymi

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Inti Raymi, a set on Flickr.

Fotos da Festa do Sol em Cusco. Junho de 2011.

Inti Raymi, a Festa do Sol em Cusco

Grande Inca em Sacsayhuaman

Era no tempo dos grandes incas. Ao fim da noite mais longa do ano, o alívio de iniciar uma nova jornada, dia de agradecer aos deuses e pedir sua proteção para o novo período.  Uma grande cerimônia está para começar e os peregrinos dos quatro cantos do império já estão no umbigo do mundo: Cusco. O culto ao deus sol é celebrado por toda sociedade andina que se organiza de acordo com sua região de origem. Cada um tem seu papel e conhece suas obrigações. A importância religiosa, social e política do IntiRaymi, a Festa do Sol, era tal, que a celebração se tornou conhecida em todo império inca.

De acordo com o cronista e historiador cusqueño Garcilaso de La Vega, o Inti Raymi era uma das celebrações mais importantes dos incas e marcava o início de um novo ano. Em seus registros consta que a festa foi realizada com a presença do grande Inca pela última vez em 1535. Aí, a história já é conhecida: dominação espanhola, imposição da fé católica e abolição de rituais considerados pagãos pelos novos moradores dos Andes.

Depois de suprimido pela Igreja Católica, o Inti Raymi deixou de ser celebrado até 1944, quando um grupo de intelectuais e artistas cusqueños decidiram recuperar essa herança andina. Desde então, o IntiRaymi passou a ser apresentado anualmente, em 24 de junho, na cidade de Cusco.

O Inti Raymi, que no tempo dos incas era uma cerimônia religiosa, agora é uma apresentação teatral que evoca as recordação dos antigos povos andinos e contribui para a conscientização histórica dos habitante de Cusco, que dividem sua festa com seus conterrâneos de diversas partes do Peru.

A celebração ao deus inti também tem atraído muitos turistas estrangeiros, que já percebem que a cidade habitada mais famosa do Peru merece tanta atenção, quanto a que é dedicada à sua famosa vizinha, Machu Picchu. 

A festa que louva o deus sol é parada obrigatória para os que desejam conhecer um pouco mais da cultura desse povo andino, que transformou um costume inca em tradição popular que louva a história de seus ancestrais.

Participei dessa grande celebração no ano passado e, sim é uma festa turística. Mas vale estar no meio do povo que se espreme para ver passar o grande inca e seu séquito dedicado. Os cusqueños sabem celebrar suas tradições e cabe a nós, turistas, buscar um espaço em meio a isso.















domingo, 3 de julho de 2011

Retorno a Cusco

Mulher observa comboio com as peças de Machu Picchu, que retornam a Cusco após 100 anos

Chegar a Cusco, pela segunda vez, fez-me sentir parte dessa cidade. Foi como se eu estivesse voltando para um lugar do qual eu jamais deveria ter saído. Penso que esse era o mesmo mesmo sentimento dos cusqueños que aguardavam ansiosos o desembarque de 17 caixotes no pequeno aeroporto Alejandro Velasco Astete, naquela manhã de quarta-feira, 22 de junho de 2011.

Após quase 100 anos em terras estrangeiras, 363 das 46.332 peças que foram levadas pelo primeiro explorador de Machu Picchu com uma máquina fotográfica em mãos (isso é importante), Hiram Bingham, retornavam a seu país de origem. Isso graças a um acordo entre o governo peruano e a universidade de Yale, que concordou em ceder o primeiro lote para comemorar o centenário da chegada de Bingham à imponente cidade inca.

Bingham levou as peças a Yale após suas expedições, de 1912 e 1915, na qualidade de empréstimo, mas elas nunca foram devolvidas ao Peru, até agora. Se cumprido, o acordo prevê o retorno das demais peças, restos e fragmentos procedentes de Machu Picchu, de maneira progressiva até o final de 2012.

Nesse clima de festa, fui recebida por essa cidade que, orgulhosa, recebia seu legado histórico de volta. Segui, num pequeno táxi, o comboio que carregava as primeiras peças. Boba eu de pensar que seriam levadas direto para algum museu e trancafiadas a sete chaves. 

Como em Cusco tudo se comemora, a caravana seguiu até o grande templo de Qoricancha, onde o Inca (imperador), interpretado por um ator cusqueño, e seu séquito receberam as peças e seguiram em marcha até a Plaza de Armas, que estava repleta de pessoas aguardando ansiosas pela cerimônia de entrega das peças.
Inca é escoltado po policial até a Plaza de Armas


Séquito inca e autoridades locais recebem as peças

Discursando em espanhol e em quéchua, idioma tradicional dos habitantes dessa região do Peru, Luis Florez, o alcade (prefeito) agradeceu o esforço dos envolvidos nas negociações e, junto com o séquito inca, recebeu as 17 caixas com as peças, que seguiram em caminhão desde a Plaza de Armas até a Casa Concha, onde serão exibidas em breve.
Séquito inca segue em marcha até a Casa Concha




Entrega das caixas com artefatos de Machu Picchu na Casa Concha

Não pude ver as peças, apenas as caixas sendo descarregadas. O que eu vi, e acredito ser de mais valor, foi a expressão de orgulho dos cusqueños que receberam essas relíquias como se fossem fotos antigas de família, como algo muito próximo, muito seu. Essa proximidade com a tradição, com a história, é algo que salta aos olhos negros desse povo tão alegre. 

Assista o vídeo institucional da universidade de Yale e saiba mais sobre o acordo e o retorno das peças:

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Inti Raymi - La fiesta del Sol en Cusco

Quando cheguei em Cusco, em julho do ano passado, mal pude acreditar que havia perdido por poucos dias um dos festivais da cultura andina mais significativos: o Inti Raymi, La Fiesta do Sol, que acontece todo ano, em 24 de junho. Decidi, então, que não poderia ficar de fora do próximo. Ou seja, Cusco, aí vou eu! De novo!!!

O Inti Raymi é uma cerimônia inca que se realizava anualmente em Cusco, a capital de Tawantinsuyo, entre o período final da colheita e o início do equinócio de inverno nos Andes, na segunda metade do mês de junho. Na época dos incas, o Inti Raymi marcava o final de um período (ano) e início de outro, celebrando sempre o que a terra fornecia como alimento. Mais uma vez, aqui está Pachamama!

Esquema do Inti Raymi hoje
A festa que celebra o Deus Sol mobiliza toda a cidade de Cusco e acontece em três locais cheios de magia e história:
  • Templo de Qorikancha, que na época do incas era o principal templo ao Sol.
  • Plaza de Armas, a praça mais charmosa do mundo
  • Saqsaywaman, sítio arqueológico próximo a Cusco.
Encenação na Plaza de Armas - foto do site da Emufec
Encenação em Saqsaywaman - foto do site da Emufec
É possível assistir gratuitamente os dois primeiros momentos, sendo que para estar em Saqsaywaman é necessário comprar ingressos. A empresa que cuida desse fabuloso evento é a Empresa Municipal de Festejos de Cusco (Emufec). No site deles, é possível conhecer mais a respeito sobre o festival e sobre procedimentos de reserva de ingresso*. As informações desse post foram traduzidas desse site, assim como as fotos foram retiradas de lá. Em breve, terei as minhas!
 
*Comprar ingressos direto do Brasil não é tão simples, mas possível. Contudo, é necessário retirar com antecedência na própria empresa. Sorte a minha ter amigos vivendo em Cusco.

domingo, 14 de novembro de 2010

Ritual do gelo sagrado em Mayawani - Matéria do Fantástico

Hoje, o Fantástico exibiu uma bela reportagem sobre um ritual andino: é a cerimônia do gelo sagrado em Mayawani, uma vila a cerca de 200 km de Machu Picchu. A repórter, Sonia Bridi, passou por lugares em que há pouco estive e também em locais que pretendo visitar, como essa vila que até então desconhecia.

A matéria é parte de uma série sobre mudanças climáticas e fala sobre a ameaça do degelo nos Andes. Além de ser uma excelente reportagem sobre o tema, pude matar saudades dessa terra tão enigmática e que continua a me chamar atenção de inúmeras maneiras!!

Clique aqui e assista.